sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

2 — No light, no light in your bright blue eyes

Capitulo Dois
Os olhos grossos e azuis procuravam insistentemente um foco para que a sua imagem finalmente pudesse ser capturada. O cenário que se discorria a sua frente era típico de New Jersey: as grossas gotas de chuva que escorregavam sobre a janela de vidro do estúdio de fotografia de sua faculdade, aliadas a neblina insistente do dia frio, faziam daquele cenário perfeito para uma boa fotografia. O céu já estava perfeitamente decorado em seus tons mais escuros, anunciando a noite na cidade, de modo que Faith viu o dia passar diante de seus olhos sem perceber, somente fotografando tudo o que lhe parecia interessante para o foco de sua câmera. Apenas quando o sinal do tão temido toque de recolher ecoou por toda a universidade que a garota finalmente despertou de seu estado nostálgico com a fotografia, preparando-se para mais uma noite, dessa vez solitária em sua casa. Os dias eram os mesmos sem as suas saídas rotineiras.

Protegendo a preciosa câmera fotográfica com o casaco escuro, sentia a chuva molhar-lhe os cabelos escuros enquanto dava passos curtos e leves sob poças d’água recém-formadas no calçadão, em direção ao seu carro, provavelmente o único ainda presente no pequeno estacionamento da Universidade de Princeton.

Ao alcançar o mesmo, largou seu corpo no confortável banco estofado e sua câmera no outro, sem se preocupar se suas vestes úmidas molhariam ou não o interior de seu automóvel. Aquele havia sido um dia particularmente estranho, Faith pensou. Ficara entretida com a fotografia não só pela agradável sensação que isso lhe proporcionava, mas também porque, naquele dia em especial, serviu como uma distração. Se não fosse isso, provavelmente ainda gastaria mais alguns de seus preciosos minutos enfurecida com a insolência do menino de cabelos negros que a abordara pela manhã. Mas àquela altura, isso já não a incomodava mais. Era como se tivesse ocorrido há meses. Mais um acontecimento insignificante em sua vida igualmente sem maiores emoções.

Faith seguia pelas ruas sem se preocupar com a velocidade que empregava em seu carro, ela só queria chegar a seu apartamento o quanto antes, relaxar seus músculos com um banho quente e analisar meticulosamente se fizera um bom trabalho com sua câmera no tempo em que passou fotografando.


Morava em um dos bairros mais afastados da cidade, por isso, quando alcançou a primeira das muitas ruas geralmente desertas àquela hora, sabia que estava perto. Mas a sorte parecia não lhe querer sorrir tão facilmente assim, e Faith constatou tal fato quando seu carro foi diminuindo a velocidade gradualmente até parar. Novamente os pneus estavam furados.


Sem se preocupar com a chuva que caia torrencialmente no exterior do seu carro confortavelmente aconchegante, Faith desceu do mesmo ansiosa para trocar os pneus e seguir para a sua casa. Porém assim que o fez, surpreendeu-se ao ouvir uma voz masculina, provavelmente de algum velho bêbado, soando atrás de si.


— Cai fora, velhote. — Faith cuspiu rapidamente, enquanto retirava o pneu vazio das rodas de sua caminhonete. O velho não se intimidou com a sua grosseria, e continuou se aproximando lentamente da garota, na escuridão da estrada, e ainda com a chuva caindo sem pausas.


Em momentos como aquele, Faith não temeria a aproximação, até porque nunca temeria qualquer tipo de pessoa mal vestida ou com cheiro de vodka. Porém quando voltou-se a voz masculina que soava atrás dela, ela temeu.


O homem, que agora estava a poucos centímetros de seu corpo, possuía um ferimento em toda a sua bochecha esquerda, evidenciando que ainda que o sangue estivesse seco, era recente. Suas mãos estavam sujas de barro, e seguravam uma garrafa de vodka. O caos havia se alojado no corpo do velho, e sua aparência era digna de um filme de terror. Porém, sem transparecer o choque que havia levado ao encarar aquela face, Faith apenas se afastou do velho homem, e assim que percebeu que estava encostada sobre o capô de seu carro,  e sem saída, perguntou:


— O que o senhor quer? — Falou, tentando não evidenciar em sua voz o quão desconfiada estava daquela situação. A chuva, que antes caía fortemente sobre a estrada, já havia parado, e aquilo por um momento a deixou mais aliviada.


O velho homem, que antes não havia expressado qualquer reação a presença dela, sorriu lentamente, e tomando mais um gole da garrafa de vodka barata que possuía em suas mãos, respondeu:


— Essa é uma pergunta difícil  senhorita. Observando as circunstancias em que estamos. — O homem falou, pigarreando em seguida, e apontando com as suas mãos a estrada vazia a sua frente. Voltou se a Faith, e mais uma vez sorriu. — Você pode decidir, se eu sou o homem mal, ou o homem que vai te ajudar a sair daqui, para o conforto da sua casa. — O que você acha?


— Eu não acho nada. Eu só quero que você vá embora e me deixe em paz. — Faith cuspiu para o velho. Ele semicerrou os olhos e deu um sorriso para a moça, deixando visíveis os dentes amarelados.


— O seu desejo não é uma ordem, bonitinha. — Balbuciou, aproximando-se de Faith e soprando seu hálito podre no rosto da menina. — Você é muito gostosinha para eu te deixar ir.


Faith estremeceu quando ele a pegou pelo pescoço e enfiou o nariz nos seus cabelos, inspirando o aroma que o shampoo que ela usava deixara. Dos cabelos, ele desceu para o pescoço. Faith podia sentir os lábios nojentos roçando na sua pele. Ela queria gritar, mandá-lo tirar suas mãos imundas dela e a deixar em paz, mas estava tão enojada que sua única reação foi esperar o homem voltar sua atenção para ela e cuspir no rosto do mesmo.


— Eu mandei você ir embora. — Rosnou, não sabendo como encontrara sua voz naquele momento.


O velho levou alguns segundos para entender o que tinha acontecido, mas quando o fez segurou os braços de Faith com tanta força que ela foi obrigada a cerrar os dentes para conter um gemido de dor. Ele foi com tudo para cima dela, mas antes que pudesse ter algum contato mais íntimo com a menina ela fechou os olhos e virou o rosto.


— Olha pra mim, bonitinha. — O homem resmungou, apertando ainda mais seus braços. — Eu quero que você veja o que eu vou fazer com você.  Ele deu uma risada rouca, recheada de más intenções. Faith sentiu cada pelo do seu corpo se eriçar, mas não se virou. Quando ela se preparou para dar uma joelhada no meio das pernas do velho e acabar com aquilo de uma vez por todas, ouviu outra voz masculina. Outra voz masculina estranhamente familiar.


— Você não vai fazer nada com ela, Joe. Deixa a menina em paz. — Faith então olhou. Era o mesmo garoto da universidade. Seu estômago deu duas voltas e gelou. O que ele estava fazendo ali?


— A bonitinha aqui precisa de um trato antes que eu a deixe em paz. — O velhote resmungou em resposta quando o reconheceu.


— Eu mandei deixa-la em paz. — O outro falou, entredentes. Ele inclinou minimamente a cabeça para a direita e semicerrou os olhos para o homem, que afrouxou o aperto nos braços de Faith e deu uma última olhada para ela antes de se afastar.


— Você tá me devendo uma, marrentinho. — Falou para o garoto ao passar por ele, o dando um esbarrão que poderia ter levado qualquer um mais fraco que ele ao chão.


Faith observou, por parte incrédula e por parte aliviada a situação que se discorreu diante de seus olhos mais rápido do que ela imaginara. Quando sua respiração se normalizou e ela foi capaz de controla-la normalmente, observou que o garoto que a havia "salvado", mesmo que fosse difícil admitir, estava parado a uma boa distancia sua, a observando.


Faith porém não fez questão de falar com ele. Apenas voltou-se a sua missão que anteriormente fora interrompida, colocando o macaco em seu devido lugar, e após retirar todos os pregos da roda começou a retirar cuidadosamente o pneu furado do lugar.

Entretanto, assim que concentrou-se novamente, a voz do garoto que aparentemente havia ido embora, soou.


— Eu acho que mereço um agradecimento por te livrar dessa, bonitinha. — O garoto falou, fazendo questão de impor o apelido no final da frase, assim como o velho havia feito. O toque de humor em sua voz estava explicito, porém Faith não estava rindo.


— Não. Você deve voltar para o seu caminho, sabe-se de onde você surgiu. — Faith respondeu ainda sem voltar-se para o garoto, porém sabendo-se que pelos passos que seus ouvidos captaram, ele estava cada vez mais perto. E a garota não sabia o porquê de ficar mais nervosa com a sua aproximação, do que havia ficado com a aproximação do velho.


— Eu sou seu salvador. Surjo de lugares inimagináveis e estou aqui para te proteger. Tipico clichê romântico  não acha? Mas você está fugindo do roteiro recusando a me agradecer pelo meu feito. — Ele falou, rapidamente e provavelmente sem analisar suas próprias palavras. Balbuciou um "tsc tsc" reprovando  atitude da garota de não agradece-lo, aproveitando-se totalmente do humor em sua frase. Faith estava de costas para ele, porém podia sentir que sua postura provavelmente estava em forma de deboche. Suas palavras, de tão automáticas fizeram com que, em seu interior, Faith sentisse vontade de rir. Talvez de gargalhar. Mas como sempre, a proteção invisível que a garota carregava com si, a impedia de se socializar e agir como uma pessoa normal. Rir claramente não estava na lista de suas atividades rotineiras. Então apenas ignorou.


Por outro momento, perdida em seus devaneios, Faith também teve vontade de agradecer, sinceramente por ter se livrado do homem que por alguns segundos a fez temer. Porém novamente a tão clamada e costumeira ignorância a recordou que ela era a sua emoção mais rotineira, e que era nela que Faith deveria confiar. Ela não podia deixar-se levar por uma emoção rara que havia surgido com um toque de mãos e com uma piada muito mal feita. E com esse pensamento, voltou-se a sua tarefa, desligando-se de qualquer ruído que o garoto fizesse para atrai-la. Ela sabia que ele estava ali, pedindo para ser notado com as suas atitudes ridiculamente irritantes. Ele fazia o tipo que ela mais odiava. O tipo feliz por qualquer coisa, o tipo comediante, o tipo em que seus sentidos gritavam para que ela ficasse longe.


Quando terminou de recolocar o pneu novo no lugar do velho, e se preparava para entrar em seu carro e partir para uma longa noite de descanso, seu salvador — que ela havia obrigado a esquecer durante a sua missão de arrumar seu carro,  se materializou de frente para a porta do seu automóvel  com um sorriso largo no rosto, a impedindo de entrar. 


— Boa noite, bonitinha. — Mais uma vez bancou o engraçadinho e piscou encantadoramente para ela. Seus braços estavam diante de seu corpo, um em cada lado, a impedindo de sair dali. A aproximação era mais do que perigosa, e Faith grunhiu em reprovação a aquele ato. Aquele simples ato, a havia deixado furiosa. Não era possível  que para ele era tão difícil se manter longe. Não era possível que ele não sabia interpretar uma palavra de ignorância. — Boa noite, Faith. — Ele repetiu, porém dessa vez sua voz soou incrivelmente  normal, principalmente quando ele fez com que seu nome saltasse de sua boca. Faith estremeceu ao ouvir o seu próprio nome, e com esse gesto, empurrou o garoto a sua frente, violentamente para que ele se afastasse.


— Por favor, não faça esse papel. Você é detestável  e se eu estou te falando isso, é porque quero você longe de mim. Não me faça ter que ser mais grossa do que eu desejo. E obrigada. —  Faith se forçou a dizer a ultima palavra, ainda que seus sentidos a reprovassem de fato. Após isso, Faith não se permitiu encarar o garoto nos olhos para ver a reação do mesmo. Apenas entrou em seu carro, aconchegou-se em seu banco incrivelmente confortável e quente, e partiu para a sua casa.


I never knew daylight could be so violent...


(N:A: Olá, pessoas! Aqui é a Carol que vos fala porque a Bianca é muito preguiçosa e tem preguiça de escrever até uma nota final. Só gostaria de dar oi, e pedir para que vocês comentem aqui, ou no twitter, ask.fm, em qualquer lugar, o que vocês estão achando da história. Muito obrigada! ♥

Twitter: Bianca: @nayfsnicely, Carol: @camoraesn

Ask.fm: Bianca: nayfansnicely, Carol:  camoraesn)

5 comentários:

  1. aaaah suas perfeitas! Está perfeita a historia de vocês, sou uma grande fã. Continuem escrevendo assim! Beijos @CurlyPrisoner

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  2. Faith, Faith... cuidado, assim começam todas os grandes romances...

    Meninas, a fic está ótima! Já tô morrendo de curiosidade...

    Besos! :xx

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  3. Apenas amando a história, sou muito fã.
    Esperando pelo próximo capítulo xx

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  4. Ta perfeita!!! Amaaando :3 ansiosa pelo proximo cap *--*

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