sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

1 — Well, contempt loves the silence...

Prólogo
"A dor não parava nunca. Agulhas, martelos... A sensação era como se algum desses objetos a estivesse ferindo, interiormente. A cada noite, a cada aproximação, a dor era a mais intensa possível, e imaginável. Caminhando pelo estacionamento da universidade, tropeçando entre seus pés e gritando sozinha entre seus soluços e choro, ela tentava chegar ao seu carro, onde a única coisa que poderia cessar aquela dor a aguardava. Em sua mente perturbada e conflitante, o único pensamento que passava entre o filtro da dor e desespero, era uma pergunta, um questionamento vazio.  Por que não me matar? E a resposta a esse questionamento, era inevitável. Na verdade, ela só queria matar uma parte de si mesma: a parte que queria se matar, que a arrastava para o dilema do suicídio e transformava cada janela, cada utensílio de cozinha e cada estação de metrô no ensaio de uma tragédia. Porém, mais forte que esse pensamento, era o oposto da questão em que se encontrava. O motivo da agonia que lhe perturbava, era aquilo, aquele sentimento, aquele mistério que a fazia querer viver. Mesmo que a dor física fosse forte, a curiosidade e a forma como aquilo soava para ela, era maior. Assim, perdida em seus devaneios insanos, a garota em seus gritos finalmente chegou ao seu carro e deu fim aos seus questionamentos. Fim temporário, provavelmente com a duração de poucas horas antes que a frase que lhe causou a dor lhe fizesse sentir de novo.
— Você me dá medo, você é insana, sádica e todos os adjetivos que eu não consigo recordar. Porém a sua insanidade, desperta a minha insanidade, e é isso que não me deixa retroceder."

Capítulo Um
A garota preguiçosamente abriu os olhos, e observou um quarto totalmente diferente do que já lhe era conhecido, quanto os primeiros raios de sol iluminaram o cômodo. O fato que foi constatado rapidamente não foi de muito surpresa, já que aquele “ritual” se repetia constantemente nos finais de semanas, e em alguns dias fora dela também. Apressada, Faith levantou-se da cama com cuidado para não acordar o garoto deitado ao seu lado, e com atenção começou a recolher as roupas jogadas – se não rasgadas pelo chão do quarto. Suas paredes eram brancas e simples, e o cômodo possuía uma cama de casal, uma mobília um pouco desgastada possivelmente pelo tempo e um guarda-roupa grande, que tomava toda a parede de frente a cama. A garota presumiu que a sua vitima da noite anterior não possuía muito poder aquisitivo, mas nada que a fizesse se arrepender. A única coisa que lhe importava era tentar preencher o vazio que lhe era comum desde sempre, nada mais. Rindo sem nenhum humor, a garota tratou-se de voltar sua atenção para a sua busca as chaves de seu carro, tateando com os pés o tapete ao lado da cama. O horário não estava a seu favor, e possivelmente chegaria atrasada a sua instituição de ensino. Seus olhos ardiam, e ela mal conseguia abri-los, talvez por consequência das gramas de cocaína ingeridas na noite anterior, que acidentalmente foram sopradas em seus olhos. Quando finalmente achou suas chaves depositadas sobre a superfície da cômoda, ouviu o garoto se mexer perturbado na cama, porém não se importou. Antes que pudesse sair do quarto, observou de relance sua imagem. Seus cabelos eram escuros e ele possuía um rosto agradável, com algumas mínimas sardas espalhadas pela sua face. Forçou-lhe a memória para lembrar-se da noite anterior, porém desistiu ao mínimo sinal de esquecimento. Não importava. Era apenas um detalhe insignificativo em sua vida insignificativa, que estaria apagado assim que a próxima noitada começasse.

O som da chuva que caía torrencialmente na parte exterior do prédio era o único que podia ser ouvido claramente. A Universidade de Princeton estava silenciosa devido o primeiro tempo que já havia começado, e Faith aguardava sem muita pressa o segundo começar, sentada sobre o banco exterior da universidade, que dava uma visão perfeita das gotas de chuva caindo a sua frente, juntamente com a neblina do dia frio de New Jersey. Atraso não era uma novidade para ela as segundas-feiras, visto que sempre acordava com algum desconhecido ao seu lado. Era quase uma rotina. Cansativa e tediosa, mas ainda sim uma rotina.
As poucas pessoas que também chegavam atrasadas a olhavam com desdém. A garota não estava no seu melhor dia, e isso significava que o seu humor estava pior do que o normal. Faith não era a aluna mais querida da universidade, muito pelo contrario. Seu gênio era forte, e ela não media palavras para ninguém, consequentemente falando tudo o que pensava para qualquer pessoa que surgisse em seu caminho. Assim, ela também não possuía amigos. Apenas a si mesma.

Desta maneira, não houve qualquer tipo de reação cabível quando um garoto se sentou ao seu lado. Faith apenas se espantou com o atrevimento do mesmo, porém continuou silenciosa, observando atentamente a chuva, que diminuía aos poucos.

— Oi. — Ele deu o ar da graça, falando um pouco tímido em consequência da frieza que a garota sentada ao seu lado passava. Faith revirou os olhos com desdém, apertando seus braços contra o corpo em uma tentativa falha de se esquentar e o ignorou. O garoto continuava a observa-la, agora repousando seus olhos para suas vestes, que com toda a certeza não estavam no padrão de um dia chuvoso e frio de New Jersey. — Não vai falar comigo? — Ele, o garoto misterioso insistiu, agora com um tom de voz mais confiante. Faith permitiu-se observar a imagem dele, e não se decepcionou quando o fez. Os olhos castanhos do menino a fitavam a uma distância que poucas pessoas se atreviam a ficar dela e isso a assustou. Os cabelos pretos dele estavam úmidos e sustentavam gotículas de água da chuva, que escorreram uma por uma com uma lentidão extraordinária pelas suas bochechas com um corado natural. Faith deixou que os seus olhos escorregassem para o resto do corpo do menino, mas manteve a expressão quase involuntária de desinteresse. Os braços definidos repousavam sutis sobre as pernas, o que o permitia encará-la com todo o tronco virado para a mesma. Uma sugestão de sorriso brotou no canto dos lábios dele quando a garota voltou os olhos para o seu rosto, fixando-os ali por um bom tempo antes de volta-los para baixo.

 Não. — O garoto observou todo o movimento dos lábios naturalmente vermelhos da garota ao seu lado enquanto a pequena palavra em resposta escapava por entre eles.

Ele torceu o rosto em uma expressão de confusão, não contendo um riso abafado que saiu de sua garganta. Faith o olhou novamente, procurando saber o motivo de seu riso, mas ainda demonstrando indiferença. Seus olhos exageradamente azuis o analisaram com cautela e ela franziu levemente a testa, tombando a cabeça para o lado direito de uma forma que fez os seus cabelos castanhos e desgrenhados escorregarem pelos seus ombros, chamando a atenção do garoto atrevido. Ela era, de longe, a garota mais exótica daquele lugar, e talvez tenha sido por esse fato que havia conseguido chamar toda a atenção do garoto, a partir do momento em que seu olhar caiu sobre ela. Seu pensamento era compreensível. Não era todo o dia que você se depara com uma menina de meio arrastão, shorts jeans e maquiagem borrada no primeiro dia de aula. Ele havia ficado curioso.

— Tecnicamente você acabou de me responder. — Falou por fim, continuando a observá-la com os olhos semicerrados e um sorriso irônico nos lábios.

 Posso passar a não responder mais. — Ela retrucou, voltando a envolver o tronco com os braços, novamente em uma tentativa falha de se esquentar, procurando ignora-lo.

— Respondeu de novo... — Provocou, arrancando-lhe um suspiro alto e um rolar de olhos dramáticos.

— O que você quer? — Perguntou de repente, a voz mais ríspida que antes.

Ele precisou de um momento para pensar sobre o assunto, enquanto ponderava sobre o que de fato, queria com ela, colocou-se a observá-la mais uma vez. O esmalte preto descascado cobria as suas unhas relativamente curtas, mas ela parecia não se importar, e o tênis surrado batia constantemente contra o chão em um claro sinal de impaciência. Quando viu que ele demoraria a lhe responder, levantou uma das sobrancelhas em sugestão.

 Sala de História. Quero saber qual é. — Explicou com a maior sinceridade possível, incapaz de achar um motivo para tamanho interesse nela.

Novamente, rolando os olhos dramaticamente ela respondeu tediosa e grossa. — Terceiro andar, sala 3. — Assim que falou, se preparou para levantar-se do banco em que estavam sentados, porém sentiu um braço impedi-la de concluir o feito e se afastar dali. De relance e impulso, a garota voltou seu rosto para ele, que apenas sorriu, vendo que Faith havia ficado furiosa com o contato. Após isso, sibilou um cumprimento. — Tenha um bom dia.

Faith apenas ignorou sua repentina simpatia, e puxou os braços violentamente para se livrar do contato que o garoto estranho a havia obrigado manter. Furiosa e incrivelmente assustada pelo o choque que havia sentido com o contato, caminhou em passos duros até sua sala, assim que o sinal ecoou por toda a universidade.

10 comentários:

  1. Muito boa meninas! quero continuaçao logo... quando postarem me avisem, beijos @CurlyPrisoner

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  2. Demorou, mais saiu. HAHA Vocês duas juntas é surreal... Escrita impecável. Postem mais logo, ok?! Beijos amores.

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    1. Yayyy, você sabe que seus elogios valem ouro né? Muito obrigada Glau! /C

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  3. Ual amei !!! Simplesmente divino

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  4. essa fic vai ser babadoooo! esperando anciosamente pelo prox cap :)

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  5. Incrível. Algo me diz que essa fanfic irá além de quaisquer expectativas.

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